27 de março de 2011

Siga com ela





Já era tarde, o sol estava se perdendo no horizonte junto a um emaranhado de nuvens. Crianças brincavam na praça e adultos faziam caminhada nas calçadas largas do bairro.
Ele pediu um último drink antes de sair do bar, disse adeus, e já na calçada avistou a praça onde a maioria das pessoas se colocava a caminho de casa, pois já estava anoitecendo. Foi quando avistou uma garotinha, devia ter uns onze ou doze anos de idade, estava sentada no muro baixo da caixa de areia do parquinho, fitava os próprios pés como se houvesse algo muito interessante neles. Ele atravessou a rua intrigado. Não, não podia ser ela... Mas como!
Ele deu a volta no parque e chegou por trás da garotinha, chegou perto o bastante para ver o lindo casaco de inverno que ele mesmo tinha dado a ela no último natal, foi quando ela virou com olhos fundos e vazios e disse em tom de culpa:
- Papai, eu não vou conseguir ir sem você!
Ele andava tão inconformado ultimamente que até já esperava que acontecesse isso, foi quando disse com tom de agrado:
- Você tem que ir, sua mãe está te esperando – Ele pensou um pouco e ficou preocupado – Onde está sua mãe? Ela deveria estar com você!
- Ela estava comigo...
- Pra onde ela foi?!
- Pegaram ela, eram caras estranhos, eu tive medo, então saí correndo e vim parar aqui.
Ele estava nervoso, toda aquela tristeza, que antes fora tão intensa, estava se repetindo, mas ele precisava se controlar e foi isso que fez, então disse:
- Sua mãe fez tantas coisas ruins, que nem eu consigo perdoá – la, é normal que tenha acontecido isto com ela...
- Mas eu não quero ficar sozinha papai, lá as pessoas têm caras horríveis que me assustam... e eu me sinto muito triste lá...
Ele nem precisou pensar muito, já estava planejando fazer isso desde que sua mulher tirou a própria vida e junto a vida de sua adorável filhinha, se ao menos ela demonstrasse que teria essa atitude louca em mente talvez ele pudesse evitar, mas foi um acontecimento súbito. No dia, quando ele chegou tarde do trabalho, as duas estavam pálidas e imóveis na cama, mas estava bêbado demais para perceber que não havia alma alguma naqueles corpos ali estirados, somente na manhã seguinte que caiu em si que estava sozinho na vida...
- Eu vou com você querida. – Ele disse com lágrimas nos olhos.
- Obrigado papai, você tem certeza que quer isso?
- Sim, já me decidi...
Ele se encaminhou para um beco, então tirou um canivete do bolso, era bem afiado, ele ganhou de seu avô quando ainda era garoto e ainda se lembrava da advertência do vovô “Não vá fazer coisas erradas com isso...”, mas já era tarde para pensar no que era certo ou errado, foi quando puxou as mangas do casaco para cima e afundou as lâminas em suas grossas veias, jorros de sangue saltavam, era como se sua maldita vida estivesse escapando pelos pulsos, ele estava com medo, foi quando perguntou a sua filha que tremeluzia com uma forma nem tão visível à sua frente:
- Fica comigo, em pouco tempo estaremos andando juntos no desconhecido...


Juliano F Batista

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